23 dezembro 2013

Uma história de Natal - O tripé de plástico

“As luzes piscam enquanto alguns olhos se apagam. Mesas fartas e corações vazios... que não seja assim.” L.Ol.

Meu nome é Nícolas, essa é uma historia de natal. Não sei se dizer isso levanta alguma expectativa, traz alguma história com mesmo tema à sua mente ou ainda torna tudo menos atrativo, mas é a história de natal de minha família. Nela tem elementos clássicos, papai Noel, ceia e uma lição, que eu aprendi pelo menos. Acredito que é uma história digna de ser contada, vamos a ela...
Sempre colocávamos uma árvore de natal num canto específico da casa nessa época do ano. Meu avô que morava conosco não perdia a chance de brincar:

- Que coisa estranha, não tem raiz e se apoia num tripé de plástico, nem de longe me faz lembrar das árvores que vi serem arrancadas do nosso bairro desde minha infância.

Mamãe reprovava a brincadeira de vovô, parecia se importar com o que eu pensaria, ela me abraçava enquanto falava que no que dependesse dela eu viveria a ‘magia do natal’.
De fato essa lembrança vinha lá dos meus cinco, seis, sete anos. Eu ainda não entendia direito, mas ficava animado, era uma época de presentes e de comidas gostosas, com tamanha tradição que papai dizia:

- Hey, vamos comer e aproveitar essas delícias, pois agora só ano que vêm.

Isso me soava normal, no mercado vendiam-se essas coisas somente nessa época, pelo menos eu pensava assim, dado o destaque que elas ganhavam na prateleira. Ah, sim... tinha o papai Noel também, eu não ligava para ele, ele ficava no shopping, na minha cidade não tinha shopping. Mas mamãe não queria me poupar da ‘magia’ e fez papai vestir-se como o ‘bom’ velhinho, não deu nada certo, papai era comprido e tinha as pernas finas, não combinava com aquele barrigão postiço. Vovô ria e ria, e eu também, pois sabia que era meu pai, ele não podia fazer oh oh oh, estava espirrando, a barba lhe dera alergia. Mamãe estava visivelmente frustrada e dizia:

- Veja filho presentes, olha filho os doces que você tanto gosta.

Eu não me importava, gostava de ver vovô rindo, gostava de comer, de cantar aquelas músicas e de estar com minha família. De fato era uma magia, mas no ano seguinte as coisas mudaram. Eu com oito para nove anos, via vovô cada vez menos risonho e brincalhão, mamãe atarefada com ele, que pouco saia do quarto. Chegada a época de natal, a casa não tinha enfeites como nos outros anos, muitos remédios ocupavam as prateleiras, e do fogão saiam mais sopas do que pratos especiais.
Na semana de natal fui até a casa de um amigo novo, ele tinha acabado de se mudar naquele semestre, eu estava curioso para ver uma casa nova enfeitada, mamãe me pediu para que eu aproveitasse enquanto se desculpava por não poder me oferecer muita magia daquela vez.
Quando cheguei lá, vi uma pequena guirlanda na porta, mamãe adorava, na sala tinha uma árvore, não era tão bonita quanto a nossa, pensei. Mas num outro canto havia bonequinhos, não era boneco de neve, ou papai Noel. Parecia uma cena, achei muito estranho, não tinha nada a ver com o Natal. Tinha uns animaizinhos, um homenzinho ajoelhado, uma mulher e um bebê no centro, vou lhes dizer o que achei, achei muito feio. Mas não era o único, tinha outro parecido, ainda maior, neste alem do casal e bebê havia três homens cada um trazendo uma coisa na mão, como presentes, devia ser para o bebê, pensava eu.
A mãe de meu amigo notou minha admiração quanto aquelas cenas e me perguntou se eu sabia o que era, eu não sabia. Ela me falou de Jesus, achei estranho de novo. Jesus era aquele que estava na cruz, pensava eu, com uma cara triste, saia sangue de suas feridas. Era o que eu sempre via sobre Jesus.
Ela me explicou com paciência, que aquela cena que eu via era o nascimento de Jesus, ele tinha sido prometido para a humanidade, para salvá-la e religá-la a Deus, só que não tinha um lugar para eles na cidade, ele acabou nascendo numa manjedoura, era um Rei humilde, o filho de Deus.
Ali estava a representação de seu nascimento. Com seus pais e junto a eles os três reis magos trazendo presentes. Era o que comemorávamos no natal, insistia ela, com um sorriso fraterno, o nascimento de Jesus. Ela contou toda a história do menino-deus, presenteou-me com um pequeno livro ilustrado e uma réplica menor da cena do presépio, era como se chamava aquela representação.


Ao voltar para casa, vi vovô, de pé rindo de novo. Até mamãe que não gostava das brincadeiras dele também ria. Dei um grande abraço nele e mostrei o presépio. Falei, veja vovô é o aniversário dele. Vovô chorou e eu não entendi. Contou-nos que ele queria passar pelo menos mais um natal conosco, mas dessa vez comemorando da maneira certa. Fez esse pedido em forma de oração, mas quando naquela manhã acordara melhor, já se esquecera da promessa de comemorar o nascimento da pessoa certa no Natal. Coisa que ele tantas vezes fizera. Talvez por isso mamãe se esforçasse tanto para fazer um natal especial, cheio de bolas enfeitadas numa árvore sem raiz, apoiada num tripé de plástico.
Ligamos para o papai, ele iria trazer algo para comermos, mamãe faria apenas uma sobremesa dessa vez, e mais tarde antes de cearmos, esquecemos os presentes e todos juntos agradecemos e desejamos feliz aniversário a Jesus. Vovô partiu no outono seguinte, ele disse que nunca mais implicaria com o tripé de plásticos desde que não nos esquecêssemos do presépio, foi uma de suas últimas brincadeiras, a qual levamos à sério até os dias de hoje.

Essa é a história de uma família que apoiava a festa que todos amam num tripé de plástico. E seu Natal, no que se apoia?

Espero que em algo bom. Um maravilhoso e feliz Natal a todos!


Apêndice:

Um menino nos nasceu

O povo que caminhava em trevas
viu uma grande luz;
sobre os que viviam na terra
da sombra da morte
raiou uma luz.

Fizeste crescer a nação
e aumentaste a sua alegria;
eles se alegram diante de ti
como os que se regozijam na colheita,
como os que exultam
quando dividem os bens tomados na batalha.

Pois tu destruíste o jugo
que os oprimia,
a canga que estava sobre os seus ombros
e a vara de castigo do seu opressor,
como no dia da derrota de Midiã.

Pois toda bota de guerreiro
usada em combate
e toda veste revolvida em sangue
serão queimadas,
como lenha no fogo.

Porque um menino nos nasceu,
um filho nos foi dado,
e o governo está sobre os seus ombros.
E ele será chamado
Maravilhoso Conselheiro, Deus Podero­so,
Pai Eterno, Príncipe da Paz.

Ele estenderá o seu domínio,
e haverá paz sem fim
sobre o trono de Davi
e sobre o seu reino,
estabelecido e mantido
com justiça e retidão
desde agora e para sempre.
O zelo do Senhor dos Exércitos fará isso.

[Livro de Isaias capítulo 9 versos 2 ao 7]

2 comentários:

  1. Linda história e bem engraçada...srsr
    Esse é um dos versículos que mais admiro ao citar Jesus!
    Belo texto!
    http://escritoradrikkk.blogspot.com.br

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    1. Obrigado Adriana, seja bem vinda. Fique com Deus e Feliz natal!

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