12 novembro 2013

O vício da serpente

Havia uma serpente muito orgulhosa. Encobria repetidamente seus erros e fraquezas. Ela pensava que se fingisse que não existiam ou os ignorasse, não precisaria reconhecê-los. Assim fazia e seguia, como se nada tivesse acontecido.


A vida apresentava novos capítulos e sua fraqueza se evidenciava novamente. Outras situações que davam luz a ela aconteciam, mas a serpente não havia aprendido a lidar com elas, aquele ponto continuava um ponto fraco. Poderia ser uma nova oportunidade de reconhecer, crescer e seguir, mas ela insistia em não admitir suas fraquezas.
 Contorcia-se ainda mais para esconder esse ponto. Fingia e fingia novamente, acreditava ter superado, estava enganada. Com os erros fazia o mesmo. Afastava-se de quem os conheciam se preciso, apontava neles umas falhas na esperança que as suas saíssem de foco. Tinha muitos discursos sobre moral, mas tinha pouca moral para que fizessem sentido.
 Ignorava pessoas e lugares na esperança de permanecer incorrupto diante de sua face orgulhosa. Não só deixava de assumir seus erros, como não poupava esforços para acobertá-los. Não importava o que ou quem necessitasse atingir para tal.
Com o tempo seus erros e fraquezas tomaram a forma de estacas e passaram a estar fincados ao redor da serpente e também em seu caminho. Ela se desviava de uma, se arranhava em outro, não eram poucas as vezes em que se confundia e dava voltas e voltas no mesmo lugar ao tentar contorná-las.
Quanto mais erros insistia em não assumir, mais estacas se fincavam. Quanto mais ardiloso o que fazia para encobrir suas vergonhas, maiores eram as estacas.
Ela precisava parar, arrancar as estacas do caminho. Porém preferia contorná-las quando possível. Se arranhar em algumas quando necessário. Usar desvios que acrescentavam quilômetros ao seu caminho que sem estacas levariam metros.

Não foi tarde quando a serpente se perdeu. Desesperando-se procurava sem cessar por uma saída. Estava tão ansiosa e apreensiva, rastejava mais rapidamente, arranhava-se nas estacas, estava ferida, com graves hematomas. Assim também feria a outros, estava cega, sem rumo, sem referência. Tomada de tal estado de pavor, contornou a maior estaca que ali havia. Passou pelo seu lado, até encontrar o que não tinha percebido ser seu rabo. Deu um nó em si mesma. Ficou presa e chorou sem poder esconder o rosto, pois em sua prisão ela mesma havia colocado cada uma das grades, tais como estacas.





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