10 dezembro 2014

Heróis Comuns



Se encontraram em um cruzamento ao acaso, o único ponto da estrada que tinham em comum, cada um seguiria uma mão, caso se esbarrassem ou não, isso poderia continuar sendo apenas um acaso. Mas era um dia ímpar para dois, um par que se encontra ao acaso a todos os outros. Lembra-se daqueles sonhos bobos? Sim, onde uma palavra qualquer de repente ocasiona uma conversa reveladora de tom acolhedor... que dura...


Falavam sobre heróis comuns, que salvam do tédio pessoas comuns. Puderam salvar um ao outro então, tirando do comum o tipo de ação heroica que todos precisam. De repente não sentiam mais uma sensação que traziam a muito tempo, à sensação de gritar qualquer coisa de desespero ao mundo, pois perceberam que um sussurro ao ouvido certo acalma o desespero de um espírito jamais ouvido. Um sussurro tão vivo de expressão que dá corpo à ideias embaralhadas para que elas se sintam seguras de andar sozinhas.
Era estranho, pensavam: como ouvir uma música nova e reconhecer nela a si próprio como o autor, um improviso para uma dança com passos tão bem coreografados como nunca.
Traziam dúvidas que aguçam a mente, mas não àquelas que nos deixam desengonçados na avenida, o raro sabor de se sentir à vontade.
A essa altura já estavam em outra parte da cidade, dividindo o que nunca tiveram coragem: o mesmo prato, os sonhos mais pueris, um sede saciada tão raramente, a de se sentir à vontade como alguém quase estranho se não fosse tão familiar.
Não sei a essa altura o que cada um de vocês pensam sobre o tempo, mas para eles o tempo não corria mais, antes ele alcançava o ápice, como uma faca afiada para separar os que nunca se sentiram completos. Acho que todos nós podemos contar histórias sobre perdedores, todos nós podemos escrever historias sobre vencedores, eles puderam, e assim fazem os que se cruzam ‘ao acaso’.
Ela disse: é estranho como se sentir eterno, pessoas que sentem se eternos dentro de um único segundo. Ele disse: parece uma sensação como lançar charadas diante de uma circunstância fatal, brincar com uma agulha perto de um mero balão.

Pessoas comuns salvando pessoas do tédio. Divas diante da miséria humana, reconhecendo que devem olhar para algo além delas mesmas. Como se tudo que nunca fez sentido, convergissem mansamente para um único ponto.