04 outubro 2013

Kim - Além da imagem


Kim era uma menina simples de um vilarejo igualmente simples de seu país. A guerra havia começado antes mesmo dela nascer e ainda era uma realidade sangrenta que cada vez mais avermelhava os campos que ela conhecera verde.


Quando o combate estava para se aproximar, as pessoas do vilarejo decidiram se esconder num Templo local, na esperança que aquilo que eles consideravam sagrado permanecesse imaculado pelos portadores de más notícias ao som de estopins. Não foi assim, as bombas começaram a explodir, apenas diziam: corram, corram, as crianças na frente, os adultos atrás com os bebês. Era tarde de mais para Kim, ela foi atingida, seu braço queimava, o outro ao tentar apagá-lo também. Ela pensava no quanto ‘anormal’ ficaria, em como as pessoas passariam a lhe olhar, mas esses pensamentos se tornaram pequenos raios entre os clarões, não havia tempo para eles, suas roupas haviam se queimado, ela estava nua, correndo, chorando, amedrontada, ao seu redor seus irmãos e primos, cada um lutando por sua vida.
Felizmente Kim sobreviveu, embora ela não considerasse assim, preferia ter morrido, as dores eram profundas em seu corpo e sua alma, se seguiram meses de tratamento, enxertos em sua pele apenas reflexos das feridas em suas lembranças. Mandaram-na de volta para casa, tinham feito o melhor para época, mas em casa a menina não chegou inteira, tinha pedaços partidos de sonhos, uma criança obrigada a crescer escondendo cicatrizes e lágrimas, odiando os que lhe fizeram mal, desejando mal a quem vivia com as mangas arregaçadas que ela não se permitia usar.
Os anos passaram e as dores cresciam, pois crescia o ressentimento. Kim não tinha esperança em sua vida, não achava que podia um dia namorar, se tornou um ícone de tristeza na história que todos conheciam, mas ela percebeu que não, pois a única pessoa que podia dizer quem ela era, era ela mesma. Passou a não querer ser apenas a menina assustada de suas lembranças. Encontrou numa outra história de sofrimento e humilhação, uma vítima que foi capaz de perdoar seus algozes, fazendo ainda mais ao entregar-se no lugar de cada um deles pelos seus crimes cometidos.
Passou a desejar o bem a quem lhe fez mal, encontrando nessa atitude tão controversa versos para sua liberdade, pôde enfim perdoar e arregaçar as mangas. Encontrou um namorado que dizia amá-la ainda mais por suas cicatrizes, casaram-se, filhos tiveram. Olhou mais uma vez para sua história de tristezas encontrando nela um sentido.
Hoje ela viaja pelo mundo contanto suas experiências e se sente feliz, não alimenta um descontentamento por mais de dez minutos, coisa que ela diz com satisfação.
Você já deve ter ouvido falar dessa menina de nome Kim Phúc, Vietnamita. Ela é essa menina correndo nua e chorando, fugindo de um bombardeio de napalm. Kim teve 55% de seu corpo queimado e se tornou mundialmente famosa por essa imagem. O fotógrafo foi Nick Ut, que venceu o Prêmio Pulitzer.


Há muitos outros detalhes sobre Kim, por isso convido a cada um que leu essa publicação a conhecer essa Vietnamita que encontrou em Cristo um exemplo para superar as próprias dores.
Minha reflexão final sobre Kim é que todos deveriam conhecer sua história. Ao menos em respeito a ela, que está gravada para sempre na memória da humanidade através desta imagem, nua e desesperada. Como se não tivesse nada além.

Deus é bom, paz sempre.

Este texto foi baseado no relato da própria Kim Phúc sobre o que lhe aconteceu, numa entrevista em 2012 no Diário Catarinense, na ocasião ela participaria do 8º Congresso Brasileiro de Queimaduras - 1º Simpósio Internacional Wound Care.





2 comentários:

  1. Essa menina chocou e encantou o mundo. É inesquecível. Parabéns pelo texto. Já tinha lido, mas não havia comentado. É uma linda história. Abraço!

    Lígia Beltrão

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    1. Lígia Beltrão, é verdade, por isso devemos nos esforçar para conhecê-la. Obrigado por sua visita. Volte sempre!

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