Josy
é uma menina de hábitos que você talvez goste, mas não deixe que ela perceba,
pois ela faria tudo às avessas só para te irritar. Ela é mesmo fascinante,
gosta de experimentar, compra pelo menos uma novidade no mercado a cada mês,
mas nunca se esquece de levar junto no carrinho guloseimas e ‘gordices’.
É do
tipo de pessoa que tenta desenhar um novo trajeto todos os dias para alcançar a
noite, desinteressada da opinião alheia para seu atos,(lá vêm a louquinha...
que garota sem jeito...) costuma trocar os pés enquanto anda e cantar músicas
criadas na hora sempre que não pode mudar mais nada.
Nunca
deixou de oferecer suas guloseimas às crianças da rua, por vezes deixava
pacotes inteiros com elas, sem provar um doce sequer, mas não deixe que ela
perceba que você a admirou... ela é uma garota que não conta o bem que faz nem
a si mesma.
Mas
talvez o tempo corra mais rápido para quem experimenta o sabor do dia novo, sem
medo que ele seja amargo, tem pessoas que aprendem a adoçá-lo, temperá-lo.
Josy
teve um dia que crescer, experimentar muitas coisas que a desagradavam, coisas
que insistiam em fazê-la anônima na multidão. Usar as mangas na altura certa,
não podia mais sujar os cotovelos, se sentia presa em algemas... seus braços
não tinham mais o mesmo alcance. Que fase aborrecida pensava ela.
Josy
não traçava mais caminhos novos para suas noites, virava sempre na mesma
esquina, não podia se cansar de mais, não podia se atrasar. Encontrou um mundo
em que até a respiração é contada por minuto.
Num
entardecer estava na rua, havia acabado de chover, ela lembrou que adorava
pular poças, não pôde deixar de trocar os pés assim. Mesmo em meio as nuvens o
sol se punha, num brilho alaranjado e vermelho à frente de um fundo cinza e
amarelo. Achou lindo e olhou pro lado, como um cinéfilo que tenta ver a reação
dos outros ao assistirem um grande filme, porém as pessoas apenas desviavam das
poças, olhos fitos para baixo. Viu que aquela beleza era só sua, pelo menos
naquele quarteirão. Chocou-se: chovia ouro que caia só em seus bolsos.
Questionava-se
da existência da beleza que ninguém nota. Sabia que naquele mesmo horário no
dia seguinte, veria uma nova beleza, novas formas e cores, talvez mais amarelo
e menos cinza, um pouco mais tarde um vermelho que se torna roxo, entregando-se
ao azul quase negro da noite escura...
Viu-se
adulta, mas capaz de tocar novamente seu íntimo, percebeu que não devemos
crescer tanto, pois quanto maiores somos, maior é a nossa dificuldades de
alcançar o centro, de rever nosso âmago. Tudo isso percebeu quando olhou uma
obra prima cotidiana, ignorada pelos crescidos que são incapazes de pular poças,
enquanto erguem os olhos ao céu que ainda não escureceu. Voltou pouco a pouco a
não dar tanta atenção ao que os outros pensam, a compartilhar guloseimas, a
andar trocando passos, fazendo seu próprio caminho. Era mesmo louquinha, uma
menina sem jeito. Afinal ela é o tipo de pessoa que interessa ao criador de
obras primas cotidianas.
Ah, passos
trocados ainda a levavam à noite e isso era tudo que importava...